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28 de junho de 2011

Verde de cidadania ou vermelha de vergonha, Marina Silva ainda não me agrada

Após uma longa briga com a direção do Partido Verde (PV), Marina Silva e seus "marineiros" deixaram o partido. Como não tem tempo hábil para criar uma nova legenda e disputar a eleição do ano que vem, Marina anunciou uma espécie de movimento, o Movimento Verde de Cidadania, que vai apoiar candidatos, segundo diz, comprometidos com a "causa" - seria a sustentabilidade ou coisa assim. Tudo muito bom. 

Nunca escondi que Marina Silva não me agrada. Acho a ex-petista, ex-senadora, ex-presidenciável e, agora, ex-PV um tanto ruim para o Brasil.

Segundo diz, Marina saiu do PV porque briga por uma legenda mais democrática e encontra barreira no atual presidente do partido, o deputado federal José Luiz Penna (SP). 


Ocorre que tem mais coisa envolvida neste processo. 


Em primeiro lugar, Marina sempre quis Penna fora da direção. O deputado, no entanto, tem maioria no partido. Ela até ensaiou uma deposição interna, mas, como sua ideia não foi aceita, convocou os "marineiros" e partiu para a criação de uma nova legenda. Por quê? Porque Marina, numa apreensão muito peculiar de democracia, não quer submeter-se a um partido; quer que um partido submeta-se a ela. Quer ela mesma ser o próprio partido, sem precisar discutir suas preferências e opiniões com ninguém. Uma democrata, como se nota. 

Ademais, a comportamento de Marina e seus simpatizantes no trato de problemas internos do PV chamou-me a atenção. Em abril, uma carta dela criticando a direção de Penna foi divulgada à imprensa. Ora, se o problema era interno, porque não resolver internamente? Por que a carta chegara à imprensa antes mesmo de chegar a Penna? 


Claro estava que Marina não queria discutir a democracia interna de seu partido: queria era garantir-se na mídia - de quebra, como sempre, ganharia a simpatia das redações (escrevi sobre a carta aqui). 

A trajetória de Marina segue a narrativa mítica da vitimização-superação (a mesma aliás, sobre a qual se construiu o mito de Lula, o presidente operário).


Sua imagem, com a ajuda da imprensa, costuma ser associada, além da "causa", com a ética. No entanto, o escândalo do mensalão, em 2005, não feriu suficientemente sua [a dela] ética para que deixasse o partido. A agora Verde de Cidadania não ficara sequer vermelha de vergonha. 

Além de tudo, acho seu discurso inconclusivo, fraco, ineficaz. Na eleição presidencial, Marina falava, falava e falava e eu não entendia nada. Ela queria uma certa economia do século XXI, supostamente mais sustentável. Quando instada a definir em termos práticos o que seria isso, Marina, com aquele quê de inteligência superior, dizia que dependia de inovações da Embrapa ou coisa parecida. Todos achavam que ela era dotada de grande sabedoria, e quem não entendesse onde Marina queria chegar é porque não havia, ainda, desenvolvido tamanha compreensão. 

De mais a mais, não voto em candidato de bandeira única. O tema da sustentabilidade é tão premente que exige atenção de qualquer governante, e não é justo Marina apresentar-se como monopolizadora desta "consciência". 

Em suma, Marina Silva é a primeira que descarto. É inconsistente no discurso, eticamente questionável, antidemocrática e autoritária. 

Verde de cidadania ou vermelha de vergonha, Marina Silva ainda não me agrada. 

7 de junho de 2011

Anotem: isso ainda vai servir para o Brasil

"Defendo os meus valores: liberdade, democracia, pluralismo, tolerância, igualdade entre os sexos. Sempre que tivermos a chance de inocular esses conceitos em outras regiões, devemos aproveitá-la. O maior problema político do mundo hoje é a incerteza sobre os países muçulmanos que atravessaram revoluções recentes. É um momento de promessas e também de grandes riscos, no qual se deve agir com determinação. Não sou relativista. Agora está na moda pedir perdão por qualquer coisa. Quem, vez por outra, assume uma posição igual à minha tem de ficar se desculpando todos os dias. Não faço isso. Não considero que nossas ideias sejam equivalentes às de outros países ou sistemas culturais. Nossas sociedades são melhores. Nossos valores são melhores. O principal problema da Europa hoje é que o continente está perdido em meio a tanto relativismo. Os europeus hoje não defendem seus valores e não entendem as ameaças que podem sepultá-los. Pelo contrário, acho que devemos defendê-los e disseminá-los quanto pudermos. "

Palavras de José Maria Aznar, presidente do Partido Popular (PP) e premiê da Espanha de 1996 a 2004, em entrevista à Veja desta semana.

6 de junho de 2011

Ronaldo Laranjeira: "FHC presta um desserviço à saúde pública"

Sou fã da obra social e política de FHC. Acho que seu nome e imagem só não receberam (ainda) a devida importância na história brasileira devido a um processo sistemático de denegrição promovido por boa parte da esquerda brasileira. Entretanto, considero errada a defesa que o ex-presidente faz da descriminalização das drogas (como deixei claro aqui). O site da Gazeta do Povo traz hoje uma entrevista notável com Ronaldo Laranjeira (íntegra aqui), um dos maiores especialistas do Brasil no assunto. Laranjeira classifica de "desserviço" a mobilização de FHC e outras personalidades a favor da legalização da maconha. Confiram: 


A descriminalização de substâncias psicotrópicas pode ajudar o país no controle do consumo de drogas?
O Brasil tem uma lei de 2006 que já fez uma certa descriminalização do usuário e definiu um maior aumento da pena aos traficantes. Acredito que não é significativo você criar uma outra lei mais branda se o governo não fizer a lição de casa, e ainda não se fez nem o básico, que é investir em prevenção e em tratamento. O Brasil não tem uma rede assistencial pública para lidar com dependente químico. Não temos nenhum programa oficial do Ministério da Saúde para o tratamento de dependentes do crack, por exemplo, ou para pessoas que sofrem de alcoolismo. Essa ausência afeta especialmente aqueles que não podem pagar um tratamento em uma clínica privada.
O que acha do envolvimento de líderes mundiais, incluindo o ex-presidente FHC, na divulgação da descriminalização ?
O que o Fernando Henrique está fazendo é um desserviço à saúde pública e aos valores da sociedade brasileira. Ele devia estar defendendo a proteção das famílias que têm esse problema com a criação de uma rede assistencial pública. Aliás, é preciso criar sistemas de financiamento para todo o setor de prevenção, que realmente não tem recursos. Não havia recursos na época do Fernando Henrique, não houve no mandato do Lula e não há agora. Quando se ouve a própria secretária nacional Antidrogas, doutora Paulina Arruda, falar que não há epidemia de crack no Brasil vemos que há muito amadorismo por parte do governo nessa questão.
Manifestações como a marcha da maconha podem influenciar a opinião pública sobre o modo de encarar a questão das drogas?
A opinião pública em geral é muito desfavorável à legalização das drogas. Se você fizesse um plebiscito hoje com certeza uma proposta de legalização perderia. Mas esse movimento envolvendo pessoas importantes tende a influenciar esse posicionamento e isso é realmente muito ruim para a saúde pública. Isso ocorre no mundo inteiro, é financiado por grandes investidores e pretende influenciar o governo e as Nações Unidas. No discurso deles a solução do problema parece fácil, é só você facilitar o acesso que as coisas se resolvem, mas eu penso que se você facilita o acesso, você aumenta o número de usuários e isso só aumenta o problema.
Quais seriam as consequências de uma possível legalização?
Tornar o acesso às drogas mais fácil seria prejudicial principalmente para a população desassistida, porque aquela pessoa de classe média que participa da marcha da maconha tem recursos. Se ela fica doente por causa de drogas, a família paga uma clínica, mas aqueles que não podem pagar pela assistência médica não têm para onde ir.
O relatório recentemente divulgado pela Comissão Global sobre Políticas de Drogas afirma que a guerra contra os narcóticos fracassou. Como o senhor avalia o desempenho das atuais medidas antidrogas ?
Não é verdade que há um total fracasso. A Suécia, por exemplo, tem um terço do consumo de drogas dos Estados Unidos, índices bem menores do que a média na Europa, e tem um modelo completamente diferente daquele que o Fernando Henrique está propondo. A Suécia não descriminalizou as drogas, mas também não prende os usuários.
Que medidas urgentes o Brasil deveria adotar para tratar o problema das drogas?
O que defendo é a criação de uma rede assistencial pública para as pessoas que usam drogas e investimento em prevenção. Há uma série de políticas que poderiam fazer a diferença na prevenção ao uso de drogas e nós ainda não as aplicamos. O Brasil ainda não fez o básico, então não faz sentido achar que liberar o uso de drogas vai resolver o problema.