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4 de janeiro de 2011

Dilma, a imprensa e a criação de um novo mito

É muito interessante ver o movimento da imprensa, em especial dos ditos colunistas e comentaristas políticos, nestes primeiros dias da presidente Dilma. Fui ler um bom exemplo disso no blog Conexão Brasília, de André Gonçalves, vinculado à Gazeta do Povo. O texto é de ontem e o título é "Por que Dilma não é Lula". Epa! Não é? Então fomos todos enganados. Durante toda a campanha eleitoral ela era ele. O outro, a oposição, era o contrário. André poderia até não gostar da conclusão, mas é verdade que boa parte do engôdo foi gerada com a ajuda complacente da imprensa - em especial da categoria dos ditos comentaristas políticos, da qual André faz parte. 

Explico-me! Vi, durante a campanha eleitoral, pouquíssimos comentaristas apontar que Dilma não poderia ser igual a Lula simplesmente porque duas pessoas não podem ser iguais. Apontavam, isso ninguém pode negar, a falta de experiência da agora presidente em cargos eletivos, mas tudo de modo muito tímido e, não raro, ressalvado que isso não era um problema. 

Durante as transmissões da posse perdi a conta de quantos repórteres assomaram à tela da TV dizendo que Dilma entrava para história como a primeira mulher presidente do Brasil, sem atentar para o fato de que ninguém faz história antes da história, não é mesmo? 
O gênero do governante, então, basta para inseri-lo notavelmente na história? E se, por acaso, ela fizer um governo ruim, podemos dizer que foi pelo gênero? Ou nesse caso seria preconceito? 

A imprensa, sem querer, está criando um novo mito. E mitos, sem exceção, não fortalecem nenhum sistema democrático. Lula se tornou um mito. A popularidade do ex-presidente o tornou inimputável. A qualquer um que se atravesse a criticá-lo, restavam acusações de preconceito. O próprio Lula contribuía para isso ao classificar qualquer crítica como espécie de inveja do primeiro presidente operário do Brasil - sem mencionar, claro, que a última vez que vestiu um uniforme de metalúrgico foi em 1975, quando descobriu as benesses do sindicalismo. 

Não sei não, mas do jeito que a coisa anda a imprensa concorre para dar a Dilma Roussef um manto perigoso de inimputabilidade. Concorre para a criação de um novo mito: a primeira mulher presidente da República. Em nome disso, os erros poderiam ser perdoados e os acertos, louvados. 

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