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13 de janeiro de 2011

Pobre povo do Rio, a entrevista coletiva e o rebolation de Dilma

Não! Realmente não há meios, modos, condições de se dimensionar a tragédia que acomete o Estado do Rio de Janeiro. A cena da dona de casa Ilair, escapando da morte (o cachorro que levava nos braços não teve a mesma sorte) içada pelos vizinhos comoveu o País inteiro. É dramático. Famílias inteiras desesperadas na porte dos Institutos Médicos Legais das cidades serranas do Estado procurando por seus entes, olhos marejados e mãos contorcidas de uma dor que não podem sanar é de chocar. Não se pode, no entanto, deixar de comentar, mesmo observando o rastro de tristeza e dor, que tudo aquilo, tem sim, natureza política. 

Não se trata de politizar a tragédia. Trata-se de fazer justiça com a História. Olhar para as causas talvez seja o melhor modo de entender as consequências e encontrar as soluções. O que acontece com o Rio é, sim, fruto de um volume de chuvas fora do comum, mas é também o resultado de décadas de descaso político. Querem ver como a política vai ditando os contornos de uma tragédia? 

No dia 31 de dezembro de 2009, chuvas torrenciais provocaram o deslizamento de uma encosta em Angra dos Reis, matando 53 pessoas. Entre elas estava a adolescente Yumi, filha dos donos de uma pousada no local e que aparece em vários tributos espalhados pela rede. Como naquele ano, o desastre de agora provocou a reação do governo Estadual e Federal. Como naquele ano, foram prometidos recursos para reparar os danos, foram anunciadas medidas para sanar problemas de habitação, foram anunciadas medidas mais rígidas para evitar a ocupação de terrenos e irregulares e, como se vê, ao invés de diminuírem, o número de vitímas aumentou exponencialmente. 

Acabo de assistir à entrevista coletiva que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, concedeu ao lado de Dilma na tarde de hoje. Segue o vídeo. Abaixo destaco alguns pontos. (Antes, um adendo: equipe de Comunicação do Planalto, arrumem a descrição do vídeo. Falta um "r" na palavra governador. Arrumem também as palavras-chave, existe erro e isso dificulta a pesquisa). 



Por volta dos 03 min e 30s Dilma elogia a organização do Governo do Rio de Janeiro. Eu não sei se a fala é fruto apenas da falta de informação ou se é uma piada macabra mesmo. No primeiro caso seria ruim; no segundo, péssimo. Dilma não pode elogiar a organização do Governo de Cabral simplesmente porque a tragédia só aconteceu devido a ... desorganização do Governo de Cabral. É questão de respeito com as famílias. Elogiar a ineficiência não produz eficiência. Não deriva o bem do mal. 

Já aos treze minutos e meio quem fala é o Governador. Ataca - E FAZ MUITO BEM - a política populista que impede uma ação mais enérgica no sentido de evitar construções em áreas irregulares.  Tudo certo e tudo fora do lugar. O próprio Cabral é um populista. A propaganda que faz das tais UPPs - Unidades de Polícia Pacificadora - é o mais bem acabado exemplo de populismo danoso. No ano passado, ele fez o mesmo após a tragédia em Angra. 

Entre o minuto 17 e o 19, Dilma fala do PAC. Pelo que entendi - a gente nunca entende perfeitamente seu raciocínio - o programa seria a solução dos problemas de moradia para aquela região. Deus livre o povo do Rio de Janeiro! O PAC é um fabuloso fracasso. Entregou muito pouco do que prometia. Ainda falou do Minha Casa Minha. É outro fracasso. O programa entregou apenas 10% do milhão prometido. Desse total, apenas 3 mil moradias foram entregues a quem recebe até dois salários mínimos. 

Perguntada por um repórter sobre a agilidade no repasse dos recursos públicos (já estamos por volta dos 23 minutos), a Presidente ressaltou que é complicado agilizar os repasses por conta da fiscalização. É mentira. Dá sim e foi o que se fez com boa parte das obras da Copa do Mundo, que, por decreto, estão livres de fiscalização do TCU. 

A entrevista de Cabral e Dilma, enfim, é um acinte, uma ofensa, um desrespeito com os cariocas. Governo Federal e Estadual prometeram mais do mesmo, para o calvário do povo do RJ. Dilma não cumpriu a promessa que fez em campanha, aquela de dançar o rebolation quando ganhasse. Ao invés disso, preferiu deixar, ao lado de Cabral, que os cariocas dancem a coreografia.

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