Os deslizamentos, os feridos e os mortos compõem, é verdade, um cenário trágico no Rio de Janeiro. A verdadeira tragédia, porém, é outra. A verdadeira catástrofe são os números tortos. Ontem o Governador daquele estado, Sérgio Cabral, concedeu uma entrevista ao lado de Dilma. A Presidente, vocês sabem, já é saudada como comandante de um governo mais técnico, discreto e racional que o de seu antecessor.
Convém a um governo técnico explicar as coisas através de números, não é mesmo? Cabral e Dilma falaram dos investimentos. Serão liberados centenas de milhões de reais para auxiliar as vítimas. Ótimo! Agora vamos ao que interessa.
Os números são tortos. Cabral, se fosse honesto com o povo do Estado que governa, ficaria, no mínimo, um tantinho vexado ao anunciar os fabulosos investimentos que estariam sendo feitos para prevenir desastres no Rio. Ontem escrevi um post no qual comparava o que acontece agora com o que aconteceu na virada de 2009 para 2010 - e demonstrava porque a tragédia de agora já era prevista há muito.
Vamos aos dados. Recorri ao site do INMET (Instituto Nacional de Metereologia) e encontrei as médias anuais de chuva no intervalo que vai de 1961 a 1990. Vejam:
Como se vê, a região que agora sofre com as chuvas recebe, nos meses de dezembro e janeiro, uma média bastante elevada de precipitação. Fica mais ou menos assim:
Dezembro - média de 220 a 260 mm.
Janeiro - média de 260 a 300.
Agora a previsão do tempo de ontem para os municípios serranos do Rio.
Os círculos delimitam pontos onde a chuva poderia passar de 100 mm. Então ficamos assim: a média de chuva é de 300 mm, mas 100 mm são suficientes para provocar a morte de centenas de pessoas. No ano passado foram 53 mortos no dia 31 de dezembro.
Este ano já passa de 500 o número de óbitos. Gostaria de ver Cabral explicando por que, se os investimentos cresceram tanto, não foi possível evitar que o número de vítimas fosse quase dez mais maior.
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