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12 de janeiro de 2011

Nem o PT confia em Dilma; ou: Lula precisa da mitologia

É. As coisas já não andam muito fáceis para Dilma Rousseff. Já havia - e agora parece ter-se intensificado - um certo noticiário político místico em torno da Presidente. Não empossada, ela já havia entrado para a história como a primeira Presidente mulher da história do Braisl - inaugurando uma categoria exótica de governantes que entram na história sem nenhum ato de governo. Uma vez empossada, e Dilma começa a ganhar aura de uma governante mais austera, comedida e racional que seu antecessor. Dilma, assim como Lula, ganhou uma aura de inimputabilidade. Ela já pode errar, porque mesmo errando não tem os defeitos de Lula. É uma bobagem. Dilma, como qualquer outro presidente, deve ser avaliada pelo que faz no governo. É mais justo com eles e  com a história do País. O problema de Lula não era que ele falava demais, era que ele FALAVA BOBAGENS demais. 

Lula deixou órfão certo colunismo político que celebrava o mito. Dilma agora pode assumir o lugar. O problema é que os dois não são mitos. Não fazem história antes que a história seja feita. É (no caso dela) e foi (no caso dele) quem comanda(ou) o Executivo, que divide o governo de uma nação com o Executivo e com o Judiciário, todos com a mesma importância. Devem ser avaliados pelo que fazem ou deixam de fazer. É irônico que seja o próprio partido de Dilma e Lula que venha a se precaver do mito, transformando Dilma naquilo que é: mandatária de um dos poderes da nação, fazendo o trabalho que caberia à imprensa. 

Explico-me: no dia 10 de fevereiro o PT completa 31 anos. A legenda quer comemorar o aniversário com uma reunião do diretório nacional. Até aí tudo bem. Acontece que a festa também servirá para aprovar uma resolução com os termos que ditarão o relacionamento do partido com a Presidência nestes primeiros tempos de Governo Dilma. Trata-se de um documento histórico, carregado de simbolismo, que tem como objetivo colocar Dilma em seu lugar. Lembrá-la de que, diferentemente de Lula, ela deve obedecer às diretrizes de sua legenda. Lembrá-la de que, diferentemente de Lula, ela não tem carta branca do PT. 

O PT tenta, com a resolução, ao mesmo tempo ditar algumas diretrizes a Presidente (considerada uma cristã nova no partido porque egressa do PDT) e acalmar as ambições de suas alas mais radicais. Lula, que deve estar presente no evento, receberá a presidência de honra do partido. 

Ontem publiquei aqui um texto que terminava com uma pergunta sobre qual Dilma poderíamos contar: aquela que condenava as irregularidades da turma do MST ou a que punha na cabeça o boné do movimento. Parece que a dúvida não é só minha. O próprio PT dá mostras de não confiar na Presidente. 









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