Páginas

17 de janeiro de 2011

Íngrid Betancourt e a lição que vem da Colômbia; ou: o terror das Farc

Neste final de semana conclui a leitura de Não Há Silêncio Que Não Termine, de autoria de Ingrid Betancourt, a franco-colombiana sequestrada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em 2002, quando era candidata à presidência nas eleições daquele País. A obra é realmente fantástica. Na forma e no conteúdo. Tive vontade de chorar ao final de cada capítulo. É claro que só algumas vezes caí na fraqueza hehehe. 

O que faz do livro de Ingrid Betancourt uma obra sem igual é a crueza com que desnuda os métodos de um grupo que, infelizmente, ainda encontra muitos simpatizantes em toda a América Latina - inclusive no Brasil. 

Nos quase sete anos que viveu como refém das Farc na selva colombiana, Ingrid lutou, sobretudo, para se manter humana. A guerrilha insistia, sabotava, humilhava seus reféns, na esperança de que eles próprios acreditassem não ser mais humanos e passassem a ser meros instrumentos nas mãos das Farc. Uma vez que os próprios reféns se enxergassem assim, a guerrilha poderia, sem ressentimentos, infligir-lhes as piores humilhações, as mais hediondas privações. 

Chorei ao relato da força e da coragem de Ingrid, ao se manter em pé quando era obrigada, sob a mira de um fuzil, a engatinhar. Quando cismava, após dias ou semanas andando pela selva, doente, sem banho há dias, em ter o rosto e as unhas limpos. Quando concluía que quanto mais desumanos fossem os seus algozes, mais humana ela precisava ser. Necessitava dizer a eles que aquele não era o mundo a que pertencia, que tinha suas raízes, sua história, sua civilidade. Sem nada para se agarrar, precisava mostrar aos guerrilheiros que fora educada para acreditar no outro, não para humilhá-lo. 

Bem, por que tudo isso? Vocês sabem, uma mulher candidata à Presidente, um grupo de esquerda ... o paralelo entre Dilma e Ingrid me foi inevitável. Tudo o que Ingrid enfrentou e a coragem a humanidade que preservou durante o cativeiro me fez pensar: "Pô, tá aí! Uma mulher na qual eu votaria com orgulho para Presidente".

"Você não sabe o que Dilma passou nos porões da Ditadura"

É. Não sei. Realmente nem imagino, mesmo porque os documentos que nos podiam revelar algo sobre esse período ficaram protegidos por decreto, não é mesmo? 
Não me venham comparar Ingrid com Dilma. É diferente. 

A primeira ficou andando pela selva amazônica, doente e exposta às humilhações das Farc, por quase sete anos. Sua família não sabia ao certo onde ela estava. Dilma foi preso, e não descarto a possibilidade de ter passado, também ela, por humilhações tenebrosas, mas ficou num prédio público, sob a guardo do Estado, num endereço acessível, portanto. 

O governo do PT vem, sistematicamente, lutando para rever a Lei da Anistia. Querem botar no banco dos réus os torturadores do período da Ditadura. É uma loucura! Se houve barbaridades - e tudo indica que houve mesmo, não é? - houve dos dois lados. Havia a tortura oficial, do Estado e havia a tortura empregada pelos grupos a que Dilma pertenceu. O que as Farca fazem por "um mundo mais justo" é a simples barbárie, a destruição de valores humanos. 

Dilma tem recebido tratamento diferente por parte da imprensa, que insiste em lhe dar ar de uma super gerente, uma mulher vencedora, que lutara pela democracia. É um embuste. As organizações a que Dilma pertenceu buscavam o mesmo "mundo justo" das Farc. A ideologia que os orienta, seus princípios, objetivos e valores são rigorosamente os mesmos. Tanto é assim que o Fórum de São Paulo, criado e coordenado pelo PT, já abrigou integrantes das Farc por diversas vezes. O PT é  conivente com o método da guerrilha e isso, não importa se é uma gerentona ou um mistificador, não é bom para a democracia brasileira. 

Nenhum comentário: